sexta-feira, 1 de junho de 2007

As Mal-Amadas

A descoberta de uma realidade que, para a maior parte de nós, está muito distante fez-me pensar muito sobre os que crescem nestes ambientes e, juntando o facto de hoje ser o dia das Crianças, partilho aqui a experiência do contacto directo e de proximidade que tenho tido com algumas delas nos últimos meses.

Todos os dias, na hora do intervalo, é o mesmo cenário: a maioria dos rapazes jogam à bola ou pingue-pongue, as raparigas conversam aos pares ou andam em grupo a passear-se pelo pátio... Mas existe uma minoria de miúdos que vivem no “outro lado da escola”, os que estão atrás dos pavilhões em actividades mais ou menos (i)legais, os que andam à “batatada”, os que saltam as grades, os que se isolam... os que nunca põem os pés nas aulas, mas passam o dia na escola e os que já nem se quer lá vão.
Estas crianças/pré-adolescentes/adolescentes ditas “problemáticas” que nas palavras dos professores têm todas as patologias e mais algumas – “aquele tem dupla personalidade de certeza!”, dizia-me um dia uma directora de turma muito preocupada – sofrem pura e simplesmente de falta de amor, são as mal-amadas da sociedade, as que quando chegam a casa encontram tudo menos um porto de abrigo onde possam estar, ser e crescer.

Estas de que vos falo acabam por crescer aos trambolhões, sem uma linha condutora, com um vazio de significado imenso. É nestas que eu penso quando saio do estágio e faço o meu caminho para casa, sabendo que casa, com a sua dimensão de porto seguro, é coisa que elas nunca tiveram... É por elas que eu guardo um cantinho no meu coração para todos os dias as olhar com olhos de ver, ou seja, vê-las como crianças à deriva, sem referências e não dizer o que toda a gente lhes diz: “porta-te bem, não faças isso, não digas aquilo, vou chamar a tua mãe, vais para o concelho executivo!”... tento ver para além das máscaras que colocam para se defenderem da dura realidade que é sentirem-se sozinhas, sem segurança, num mundo onde tudo é hostil. E quando nos sentimos ameaçados ou assustados o que é que fazemos? Atacamos ou fechamo-nos em concha, para que nada de mal nos aconteça.

O dia-a-dia destas crianças é vivido no meio de muita violência, seja os maus-tratos, a negligência ou o abandono físicos e psíquicos. Sem querer entrar no discurso dos “coitadinhos” é preciso fazer muito mais para que os direitos das crianças sejam respeitados em pleno, é preciso darmos muito mais, sermos mais interventivos...a sociedade civil também tem responsabilidades, não é só o governo.

4 comentários:

Foka_bock disse...

olhá reflexão bonita!

Anónimo disse...

eu conheço são as mal fo**d*s

Hugo Rocha Pereira disse...

Bom post, Claricinha - com timing, a fugir dos lugares-comuns e a dar que pensar.

BOOMBASTIC disse...

se alguem precisar de conversar... tou á disposição...